sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Notícia do jornal Público sobre o Outeiro do Circo


Falta de verba e de segurança pode obrigar a selar em definitivo os vestígios já descobertos no sítio do Outeiro do Circo
Os responsáveis científicos do projecto do Outeiro do Circo, no concelho de Beja, depararam-se com vários estragos na zona escavada quando ali se deslocaram em meados de Novembro. Miguel Serra, um dos arqueólogos que coordena há vários anos os trabalhos de pesquisa naquele local, disse ao PÚBLICO que, nessa altura, a equipa constatou a remoção parcial de uma manga de plástico destinada a proteger a área escavada, a qual ficou exposta às intempéries.

A intrusão contribuiu para o derrube de um troço de muralha com cerca de quatro metros de comprimento, que delimita um povoamento fortificado do período entre o II e I milénio antes de Cristo. Além destes danos, a retirada da manga deixou a descoberto uma grande quantidade de pedras e "materiais arqueológicos cerâmicos".
As infiltrações de água causadas pela remoção da tela provocaram uma linha de fractura no solo, com cerca de dois metros, que "põe em risco a aproximação de pessoas, podendo provocar novo derrube" adverte Miguel Serra. O arqueólogo admite que a vandalização ocorrida no Outeiro do Circo não deverá estar associada ao uso de detectores de metais, como aconteceu num passado recente na região. "Terão sido meros curiosos que quiseram ver o local das escavações", observa.

Na sequência deste incidente, os investigadores pediram o apoio da Câmara de Beja, entidade com quem mantêm um protocolo de colaboração, para que procedesse à limpeza e protecção da zona afectada.

No dia 9 deste mês a autarquia disponibilizou meios para remover as terras aluídas e reposicionar a manga de protecção. Por razões de segurança foram colocadas estacas em redor da escavação, aguardando-se ainda a sua vedação efectiva.

O incidente veio chamar a atenção para os riscos a que está sujeita a estação arqueológica de Outeiro do Circo desde que o projecto foi suspenso no final de 2011. Miguel Góis, vereador com o pelouro da Cultura na Câmara de Beja, alegou então que a retoma dos trabalhos teria custos "altamente dispendiosos", que a autarquia não tinha condições para suportar. Miguel Serra diz que a suspensão do projecto "coloca problemas na área escavada" e frisa que ela foi apenas alvo de uma selagem provisória, na expectativa do reatamento dos trabalhos.

Por sua vez, o presidente do município, Jorge Pulido Valente, pediu aos arqueólogos que aguardassem até ao final do mês passado, após a aprovação das Grandes Opções do Plano e Orçamento do município para 2013, para se poder confirmar ou não a disponibilidade de verbas que permitissem a retoma dos trabalhos durante este ano.

Como até ao momento não houve qualquer resposta da autarquia, Miguel Serra conclui que a escavação continuará suspensa. Nestas condições, observa, "terão de se encontrar soluções para uma selagem definitiva" que evite danos nos vestígios e que garanta uma maior segurança do local. Ao mesmo tempo apela aos que ali se desloquem para "não colocarem em perigo os vestígios arqueológicos escavados".

O Outeiro do Circo começou a ser investigado nos anos 70 do século passado e destaca-se pela sua dimensão invulgar no alto de uma colina, destacando-se como a "sentinela da planície". Tinha 17 hectares (o perímetro urbano da Beja medieval era de 25), quando, nota Miguel Serra, esse tipo de sítios fica-se normalmente pelos quatro ou cinco hectares. Na sua opinião, este é um dos sítios "mais extraordinários" que conhece no Sudoeste da Península Ibérica.

Edição on-line:

Sem comentários: