quinta-feira, 26 de março de 2015

A ocupação do território - 4

Notas curtas sobre a Mina da Juliana a partir de Estácio da Veiga

Da antiga exploração desta jazida pouco resta actualmente, para além da povoação que sobreviveu ao encerramento da mina mantendo o topónimo, e dos numerosos vestígios de escoriais que as águas da albufeira do Roxo não conseguem esconder da nossa vista, tudo o resto permanece oculto sob a barragem, restando apenas as recordações dos habitantes, as referências bibliográficas e as arquivísticas.
Os trabalhos de mineração realizados durante o século XIX trouxeram das profundezas das galerias, segundo as palavras de Estácio da Veiga (1891: 211) : “… alguns machados e escopros de bronze, assim como calhaos espheroidaes de pedra (percutores)”.

A partir do texto do autor algarvio é possível pressupor que foram recolhidas as seguintes peças: três machados (um está depositado no Museu Regional de Beja, um outro encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa, quanto ao terceiro desconhece-se o seu paradeiro actual), assim como um número indeterminado de percutores e de escopros. Destes últimos, um acabou por dar entrada nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa (Monteagudo, 1977).
Machado da Mina da Juliana. Museu Regional Rainha Dona Leonor (Beja). Foto de Carlo Bottaini

São estes os únicos elementos conhecidos que levam a pressupor a existência de actividade mineira neste local durante a Idade do Bronze, posição que não é consensual. No entanto, desconhece-se o contexto e as circunstâncias de achado, bem como a profundidade efectiva das ditas “profundezas”. Contudo, conhecem-se em território nacional outros casos de minas antigas onde se recolheram objectos metálicos, como por exemplo Alte no Algarve, Quarta-feira na Beira Alta ou Jales em Trás-os-Montes, sendo este um fenómeno com repercussões, também, ao nível peninsular e europeu (Bottaini et. al., 2008).

Referências:
BOTTAINI, C.; SERRA, M. e PORFÍRIO, E. (2008) – Metais da Idade do Bronze do Museu de Beja, Actas do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular - Almodôvar - 18 a 20 de Novembro de 2010, p. 631-646.
DOMERGUE, C. (1987) – Catalogue des mines et des fonderies antiques de la Péninsule Ibérique. Série Archeologie. VIII. Tome II. Publicaciones de la Casa de Velázquez. Madrid.
DOMERGUE C. (1990) – Les mines de la Penínsule Ibérique dans l’antiquité romaine, Collection de l’École Française de Rome,7, Roma.
MONTEAGUDO, L. (1977) – Die Beile auf der Iberischen Halbinsel. Munchen. C.H. Beck`sche Verlagsbuchhandlung (PBF, IX; Band 6).
VEIGA, E. (1891) – Antiguidades Monumentais do Algarve, IV, Imprensa Nacional, Lisboa.

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