quinta-feira, 25 de junho de 2015

Por esses campos fora...

O Projeto Outeiro do Circo colaborou com a Câmara Municipal de Beja no âmbito da atividade "Por esses campos fora", em concreto com uma participação no percurso pedestre realizado a 23 de Maio na região da Trindade. Apesar de se tratar de uma zona situada fora do âmbito de intervenção científica deste projeto, não poderíamos deixar de responder à solicitação da Câmara Municipal de Beja e que consistiu na elaboração de um texto sobre alguns elementos da Idade do Bronze Final da Trindade, nomeadamente o anel de ouro daí proveniente, bem como a pega em bronze encontrada no sítio do Pé do Castelo (ou Pego do Castelo como lhe chamam localmente) que deverá corresponder a um pequeno povoado desse período.
O texto, editado sobre a forma de folheto, destinava-se a proporcionar algum enquadramento arqueológico durante o percurso e que contou ainda com a explicação realizada no sítio por parte de um dos responsáveis do Projeto Outeiro do Circo. Durante o trajeto houve também lugar a enquadramentos sobre a geologia da região e sobre a rica componente botânica o que tornam estes percursos em algo mais do que mera atividade física, funcionando como motores de conhecimento dos campos em redor de Beja.
A equipa do Projeto Outeiro do Circo tem colaborado com a Câmara Municipal de Beja nos casos em que estas iniciativas se realizam nas áreas de atuação científica definidas (ex: Santa Vitória, Mombeja ou Beringel), mas é com grande interesse que aceitou participar em outras áreas aumentando assim a sua esfera de ação e ampliando o programa de educação patrimonial em curso.
Em breve esperam-se mais atividades que envolverão outras freguesias do concelho de Beja.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

A ocupação do território 8

Monte de Coelheira 2 (Santa Vitória) - necrópole de cistas do Bronze Médio

O sítio de Monte da Coelheira 2, situado na União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja, foi recentemente identificado no decurso de trabalhos de minimização enquadrados na rede de rega do Alqueva e foi intervencionado pela empresa Omniknos.
Os principais vestígios deste sítio relacionam-se com uma ocupação calcolítica, mas importa destacar a presença de duas cistas do Bronze Médio (Valera, Ramos, Castanheira 2014: 40) que revelam a existência de uma necrópole inédita e que se integra no grupo da Ribeira do Roxo/Ribeira da Chaminé onde são conhecidas mais 15 necrópoles deste período (Parreira 1977: 36; Serra 2014: 275).
Na cista 1 foi exumado um indivíduo em decúbito lateral esquerdo que era acompanhado de espólio fúnebre constituído por um vaso brunido com decoração em gomos e uma taça de carena baixa. Na cista 2, localizada a curta distância da cista 1, também foi identificado um indivíduo em decúbito lateral direito acompanhado por um vaso tipo Odivelas (Valera, Ramos, Castanheira 2014: 40).
A arquitetura de ambas as cistas não revela elementos diferenciadores em relação ao padrão conhecido para esta região onde as necrópoles parecem ser constituídas por pequenos agrupamentos ou núcleos e desprovidas de tumulus ou recintos delimitadores (Serra 2014: 279). No entanto é de referir a informação oral recolhida pela equipa que intervencionou o Monte da Coelheira 2 a quem o rendeiro da propriedade informou terem sido destruídas várias sepulturas ao longo dos anos o que poderia configurar uma necrópole de maiores dimensões (Valera, Ramos, Castanheira 2014: 40).

Localização de Monte da Coelheira 2 na CMP 520
Vaso com decoração em gomos da cista 1 (adaptado de Valera, Ramos e Castanheira 2014: 40)

Bibliografia: 
PARREIRA, R. (1977), O povoado da Idade do Bronze do Outeiro do Circo. Arquivo de Beja. 28-32, pp. 31-45. 
SERRA, M. (2014), Os senhores da planície. A ocupação da Idade do Bronze nos "Barros de Beja" (Baixo Alentejo, Portugal). Antrope, Série Monográfica 1, pp. 270-296.
VALERA, A. C., RAMOS, R. e CASTANHEIRA, P. (2014), Os recintos de fossos de Coelheira 2 (Santa Vitória, Beja). Apontamentos de Arqueologia e Património. 10, pp. 33-45.

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domingo, 14 de junho de 2015

Citações (4)

Citação sobre o Outeiro do Circo retirada de LOPES, M. C. (2003) - A Cidade Romana de Beja. Percursos e Debates acerca da "civitas" de Pax Iulia. Coimbra: Universidade de Coimbra, vol. 2.

Transcrição (p. 26):

"Outeiro do Circo, Beja, Mombeja [...]. Tipologia: Pov. I. Bronze. Cronologia: I. Bronze / I. Ferro, I. Bronze. Descrição: no topo de um cabeço, bem destacado na paisagem, junto à estrada (do lado esquerdo) que liga Mombeja a Beringel, a 2 km de Beringel, eleva-se este grande povoado de que são bem visíveis as muralhas. Encontrámos uma coluna de mármore que noutras circunstâncias remeteria para uma ocupação talvez romana. Um tratamento da fotografia aérea permitiu-nos reconhecer todo o traçado das muralhas. Interpretação: povoado bastante importante, do qual se avista Beja. Apesar das suas grandes dimensões não é tão grande como o dos Castelos (Baleizão), em princípio contemporâneo. Observações: importante povoado central, com restos pré-históricos e medievais, entre os quais reconhecemos algumas peças pré-romanas. Duplo recinto amuralhado"

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Arqueologia experimental ou a “engenharia inversa” de recipientes cerâmicos do Bronze Final: Parte 3 – Experiências de selagem e uso

Durante a actividade “You make, I break, together we glue” que decorreu em 2013 no Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, para além das oficinas de modelação e cozedura de recipientes foi testada a sua utilidade recorrendo a várias matérias orgânicas para melhor impermeabilizar ou “selar” a porosidade das peças. Para isso, no dia 30 de Maio de 2013, a equipa (Ana Osório, Diana Fernandes, Sofia Silva, Eduardo Porfírio e Miguel Serra) reuniu alguns materiais e os recipientes das sessões prévias (cozidos a baixas temperaturas que não ultrapassaram os 700ºC). Mais uma vez a sessão começou com uma pequena apresentação, neste caso sobre práticas etnográficas de “selagem” das peças para diminuir a porosidade e recuperar fracturas.
De modo a compreender melhor os possíveis factores em jogo nesta fase esta sessão foi planeada de acordo com vários aspectos:
O primeiro passo consistiu em encher os recipientes com uma quantidade fixa de água durante 2 minutos e voltar a medir a água para observar quanta teria sido absorvida pela superfície dos recipientes. A maioria dos recipientes absorveu cerca de ¼ do volume de água, revelando grande presença de micro-fracturas pouco visíveis.


Em seguida construiu-se uma pequena fogueira para colocar os recipientes e ferver água. Os recipientes foram secos em volta da fogueira e aqueles que não apresentavam fracturas evidentes foram parcialmente cheios com água e postos sobre brasas na fogueira, controlando-se o tempo até à água ferver. Em muitos casos os recipientes rapidamente ficavam com as superfícies húmidas ou encharcadas, o que impedia que a água entrasse em ebulição e em alguns casos mais exagerados apagava as brasas.

Para recuperar os recipientes os participantes testaram materiais diferentes, presentes em diversa literatura etnográfica, ou uma combinação de vários: farinha integral; farelo; gordura animal (banha) e vegetal (azeite), sangue (no caso de galinha) e cera de abelha. Testou-se ainda o efeito de alguns produtos na cor: foi o caso do limão (ácido) e do vinho (por ser rico em taninos).Alguns materiais não melhoraram a performance dos recipientes, mas outros mostraram resultados muito interessantes e permitiram utilizar recipientes que até então não tinham permitido ferver a água.




Destaca-se a utilidade da cera na recuperação de recipientes com fissuras e que não tenham de ser usados sobre o fogo. O azeite, a banha e a papa de farelo/farinha com água, também funcionaram bastante bem em recipientes menos danificados mas cujas superfícies ficavam húmidas devido à porosidade excessiva, o que dificultava a ebulição.
Por brincadeira e curiosidade, perto do final da sessão preparou-se uma pequenina “refeição” composta por uma perna de coelho, favas e alho, cozida com sal num dos recipientes, e uma mistura de papas de farinha integral e água, cozida em outro. Quem provou diz que o coelho estava bastante bom, mas as papas… bom, eram papas de farinha! Além disso, e provavelmente devido à inspiração de dia 24, nesta actividade contámos outra vez com um bolo de chocolate fantástico! Desta vez foi feito e oferecido por uma das alunas participantes. Um bem-haja à Carla, e, evidentemente, à Eunice, que deu o mote!



Por fim, tal como nas actividades anteriores, os recipientes foram quebrados, para se poder observar os efeitos das três sessões experimentais nas fracturas dos recipientes, sobretudo no que dizia respeito às evidências de modelação e à cor.


A equipa do Projecto Outeiro do Circo gostava de agradecer o empenho da Doutora Raquel Vilaça, a presença de todos os participantes, e ainda o apoio das instituições envolvidas, como a AAA (Associação Arqueológica do Algarve) que financiou a actividade, o Instituto de Arqueologia, o CEMUC e o CEAUCP. Só com estes apoios foi possível realizar estas actividades com tranquilidade. Agradece-se ainda à Misericórdia de Coimbra a cedência do Campo de Jogos para fazer as fogueiras e ao Led&Mat do IPN em Coimbra pelo empréstimo dos termopares utilizados na sessão 2. 






terça-feira, 9 de junho de 2015

Novo artigo disponível para download

Já se encontra disponível para download o artigo sobre a campanha de 2014 recentemente publicado na versão impressa da revista Al Madan, n-º 19 (II Série). 
O ficheiro pode ser acedido através da página da bibliografia do blogue ou através do perfil do Projeto Outeiro do Circo em academia.edu.
O artigo constitui uma síntese de divulgação com o objetivo de dar a conhecer um novo projeto de investigação arqueológica a desenvolver entre 2014 e 2017 no povoado fortificado do Bronze Final do Outeiro do Circo (Beja) e expor um resumo das atividades desenvolvidas na campanha de escavação ocorrida no Verão do corrente ano, quer ao nível da apresentação de alguns resultados preliminares quer de algumas iniciativas paralelas que se integram num programa de Educação Patrimonial que constitui uma das principais vertentes deste projeto.

domingo, 7 de junho de 2015

Oficinas de Arqueologia Experimental em Arouca - Sessão 2 - 16 de Maio

Apesar do atraso deixamos aqui o registo da segunda sessão das oficinas de arqueologia experimental realizadas em Arouca no dia 16 de Maio.
Depois de uma primeira sessão onde os participantes puderam experimentar a sua criatividade na modelação de peças foi a vez se verificar se estas passariam o teste da cozedura.

Após se verificar o estado das peças, após uma semana de secagem, houve lugar a mais uma sessão teórica que incluiu a visualização de vídeos de edições anteriores para que os participantes pudessem ter contacto com os pormenores da atividade a realizar.

Enquanto decorriam os trabalhos preparatórios do terreno onde se iriam fazer as fogueiras para a cozedura das peças, alguns participantes aproveitaram para fazer novas experiências, nomeadamente a nível das técnicas decorativas e de polimento ou brunimento.

Durante a pré cozedura, indispensável para garantir maior sucesso durante a cozedura, o Museu Municipal de Arouca brindou os participantes com uma visita guiada às coleções de etnografia, arqueologia e geologia

Aproveitando o tempo necessário para colocar os materiais nas duas fogueiras, alguns participantes resolveram mais uma vez tomar a iniciativa de testar a sua criatividade, nomeadamente através de alguns ensaios de pintura sobre as cerâmicas.

No terreno anexo ao Museu Municipal de Arouca, e após assegurar todas as medidas de segurança necessárias, iniciou-se a cozedura das peças cerâmicas em duas experiências distintas, uma em fogueira aberta e outra em soenga.


Foi com natural expetativa que se aguardou para observar o resultado final da cozedura, mas enquanto tal não acontecia os participantes tiveram oportunidade para partir à descoberta do centro histórico de Arouca, com destaque para o seu famoso Mosteiro. Apesar de algumas peças não terem permanecido intactas após a cozedura, muitas houve que passaram no teste com distinção para agrado dos respetivos "oleiros/as".

A última ação desta iniciativa passou pela lavagem e observação das peças, aspeto importante para corrigir erros em futuras sessões.
Resta-nos agradecer o empenho de todos os que participaram em mais esta edição do faCta e às entidades que possibilitaram o sucesso da iniciativa, nomeadamente à Câmara Municipal de Arouca, Museu Municipal de Arouca, Associação Geoparque Arouca, o projeto ARQ4ALL e à empresa Palimpsesto.

Recordamos que o faCta consiste na realização de oficinas de arqueologia experimental sobre cerâmica pré e proto-histórica, sendo um projeto autónomo decorrente da investigação científica realizada no âmbito do Projeto Outeiro do Circo.
Os interessados na realização destas oficinas deverão entrar em contacto para: miguelserra@palimpsesto.pt

quinta-feira, 4 de junho de 2015

A ocupação do território 7

 Misericórdia 2 (Beringel) - povoado de fossas do Bronze Pleno/Final

O sítio de Misericórdia 2, localizado na freguesia de Beringel a curta distância do povoado fortificado do Outeiro do Circo, corresponde a um sítio de fossas enquadrado no Bronze Pleno e Final.
Foi intervencionado por uma equipa da empresa Omniknos no âmbito da construção do IP8 em 2011, numa área de pendente junto a um conjunto de cerros entre os afluentes da Ribeira da Figueira, numa altitude média de 175 m.
No decurso da intervenção foram escavadas 6 fossas onde se recolheu um importante espólio cerâmico muito variado (taças, tijelas, taças carenadas, globulares, potes, vasos de corpo troncocónico, vasos de colo estrangulado, taças/tijelas de base plana, bases planas e vasos de base plana) e dentro do qual se destaca a presença de fragmentos com decoração incisa com paralelos em Cogotas. Também é de referir a presença de alguns elementos metálicos, sobretudo uma ponta de seta e um fragmento de uma possível fíbula, para além de vestígios de fundição entre os quais dois fragmentos de cadinhos (Castanheira, 2015).
A manutenção da ocupação humana neste sítio até ao Bronze Final poderá indiciar a sua integração na estrutura de povoamento associada ao Outeiro do Circo e que integra outros sítios de planície, e não só, localizados nas proximidades, como por exemplo Arroteia 6, Pedreira de Trigaches 2, Monte do Bolor 3, Pisões 5, Aldeia da Ribeira 6 ou Bela Vista 3, todos situados a distâncias inferiores a 7 km do Outeiro do Circo (Serra, 2014: 82).
Localização do sítio de Misericórdia 2 na CMP 509
Cerâmica com decoração tipo Cogotas (adaptado de Castanheira, 2015: 58)

Bibliografia:
CASTANHEIRA, P. (2015), Misericórdia II (Beringel, Beja): algumas notas para o estudo do Bronze Final nas Terras de Barros. Apontamentos de Arqueologia e Património. 10. ERA-Arqueologia. Lisboa, pp. 53-61.
SERRA, M. (2014), Muralhas, Território, Poder. O papel do povoado do Outeiro do Circo (Beja) durante o Bronze Final. In VILAÇA, R. e SERRA, M. (eds), Idade do Bronze do Sudoeste. Novas Perspectivas sobre uma velha problemática. Coimbra: DHEEAA-FLUC/CEAACP/Palimpsesto, pp. 73-97.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Estelas da Idade do Bronze de Santa Vitória

Foi inaugurada no passado dia 30 de Maio a exposição "Estelas da Idade do Bronze de Santa Vitória" na sede da União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja.
A iniciativa contou com a presença de uma pequena mas muito interessada plateia que inclusivamente partilhou o conhecimento que se tem deste território e de muitas descobertas arqueológicas que permanecem desconhecidas para a arqueologia.
Em simultâneo foi também apresentada a recentemente descoberta estela do Monte do Ulmo, que ficará exposta durante a Semana Cultural e Semana da Juventude que termina a 6 de Junho. No entanto a exposição constituída por diversos painéis alusivos às estelas da Idade do Bronze descobertas na região ficará em permanência no edifício sede da união de freguesias.
Esta pequena exposição pretende dar a conhecer uma parte do valioso património arqueológico de Santa Vitória às populações locais e constituir uma ação de sensibilização para a importância deste tipo de recurso cultural e da necessidade da sua salvaguarda e proteção.
Resta-nos agradecer à Câmara Municipal de Beja e à União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja pelo apoio concedido à iniciativa e à população de Santa Vitória pela amabilidade com que nos receberam e pelas estórias que partilharam.
Um agradecimento muito especial também a todos os que contribuíram na realização da exposição, em concreto, Rui Aldegalega, António Gomes, Teresa Guerreiro, Tânia Matias, José Maria Barnabé, Álvaro Barriga da Câmara Municipal de Beja e Francisco Paixão do Museu Regional Rainha D. Leonor, e um pedido de perdão para alguém que tenha ficado na sombra...