sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Notas de campo (5) - Campanha de 2017

Terminada a 4ª e última semana de trabalhos da campanha de 2017 e deste projecto iniciado em 2014.
Como não poderia deixar de ser, foi mesmo no final que surgiram algumas evidências mais interessantes e directamente relacionadas com um dos principais objectivos deste projecto, que passava pela detecção de vestígios habitacionais na área intramuralhas. 
Nos anos anteriores foram efectuadas sondagens dispersas pelas áreas mais elevadas do Outeiro do Circo que permitiram a recolha de inúmeros vestígios materiais da presença humana ao longo da Idade do Bronze, mas também em períodos posteriores, nomeadamente na Idade do Ferro, Época Romana e nos períodos medieval e moderno, estes com presença mais discreta. No entanto, estas mesmas sondagens revelaram pouco potencial no que diz respeito à preservação de estruturas habitacionais, pelo facto do substrato geológico se encontrar muito superficial e toda esta área ter sido profundamente revolvida pela agricultura mecanizada. De qualquer forma ainda foi possível detectar, numa das sondagens escavadas no topo do povoado, uma estrutura ligada às actividades quotidianas, como foi o caso de uma fossa de tipo silo que embalava grande quantidade de restos faunísticos, cerâmicos e até um fragmento de um bloco rochoso decorado com "covinhas". Nos últimos dois anos do presente projecto optou-se pela abertura de duas novas sondagens junto a um troço de muralha que já havia sido alvo de escavação arqueológica entre 2008 e 2013, por aí sabermos que a potência estratigráfica era muito superior, reduzindo o risco de eventuais estruturas terem sido destruídas por lavras profundas. 
As duas sondagens realizadas revelaram-se muito distintas, a sondagem 7, que apesar de revelar grande profundidade e ter permitido a recolha de enorme quantidade de materiais, não permitiu a identificação de qualquer estrutura preservada.




Já na sondagem 8 os resultados foram mais interessantes e no alargamento efectuado para permitir uma melhor interpretação de um alinhamento de pedras confirmou-se estarmos perante uma estrutura, muito possivelmente os restos de uma cabana circular ou elíptica formada por blocos de pedra unidos por barro cozido. Infelizmente não foi possível escavá-la na totalidade no tempo disponível para terminar a campanha de 2017, pelo que se optou por selar e proteger devidamente esta estrutura, salvaguardando-a para intervenções futuras que integrem um plano de conservação dos vestígios agora detectados.

De referir que os materiais recolhidos na presente campanha enquadram-se dentro daquilo que foi exumado nos últimos anos, sendo de destacar a presença de cerâmicas da Idade do Bronze em melhor estado de conservação nos níveis finais da sondagem 7 e nas camadas da sondagem 8, quer no exterior quer no interior da possível cabana. Nesta sondagem ainda se recolheram alguns artefactos líticos, como os denticulados que foice que estão sempre muito presentes em todas as áreas intervencionadas no Outeiro do Circo e que afirmam a importância da agricultura para estas comunidades, e o aparecimento de algumas pequenas argolas em liga de cobre e uma conta de colar no mesmo material.
Terminado o projecto, procedeu-se à selagem total da sondagem 7, por não haver aí qualquer vestígio passível de conservação, e ao acondicionamento e protecção com selagem cuidada da sondagem 8, por ser viável a realização de novas escavações arqueológicas no âmbito de um eventual novo projecto.
No campo das visitas guiadas às escavações há que referir que estas se mantiveram até ao último dia de trabalho de campo o que permitiu atingir um total de 82 visitantes, sendo que muitos tiveram a oportunidade de participar directamente nos trabalhos de escavação, possibilitando uma melhor compreensão dos trabalhos efectuados.
No campo das actividades paralelas houve lugar à projecção de mais um documentário da realizadora Andrea Mendoza, que teve lugar no dia 21 de Agosto, mais uma vez no Centro UNESCO a quem agradecemos desde já toda a amabilidade e disponibilidade demonstradas. O documentário, intitulado Dandelion, incluiu filmagens em 6 países, incluindo Portugal, nomeadamente em Beja, e centrava-se no conceito da Beleza, socorrendo-se de múltiplas entrevistas destinadas a mostrar a complexidade do tema que mereceu a atenção de 44 assistentes que no final tiveram a oportunidade de conservar com a autora. 


 

Nesta última semana houve também lugar ao encerramento do ciclo de conferências dedicado aos grandes povoados da Idade do Bronze do Sudoeste Peninsular com uma conferência a cargo de uma presença assídua, António Monge Soares, que trouxe uma apresentação sobre o Passo Alto (Vila Verde de Ficalho, Serpa), que permitiu aos 17 assistentes conhecerem algumas das características que fazem deste povoado um sítio único no contexto da Idade do Bronze regional.


Terminados os trabalhos de campo segue-se agora para a fase de tratamento e estudo de materiais que será sobretudo desenvolvida nas instalações do Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa em Braga e que ficarão a cargo de Sofia Silva, colaboradora de longa data do Projecto Outeiro do Circo.
Após estes trabalhos e a elaboração dos respectivos relatórios técnicos dar-se-à por terminado o Projecto Outeiro do Circo 2014 - 2017, mas ainda haverá um longo trabalho de publicação das muitas matérias de análise surgidas ao longo destes 4 anos e que levarão ao estabelecimento de novas parcerias ao longo de 2018.
Nos próximos meses será também um período de reflexão destinado a fazer o balanço do projecto e a estudar as possibilidades de dar continuidade a este trabalho, algo que só será viável com a colaboração das várias entidades que connosco têm colaborado ao longo dos anos. No entanto, fica desde já assumido pelos responsáveis deste projecto que a eventual continuidade dos trabalhos ficará totalmente dependente da capacidade para criar melhores condições e mais apoios, indispensáveis à prossecução dos objectivos futuros a propor e à afirmação deste projecto.
Por fim deixamos os nossos agradecimentos a todos os participantes desta campanha: Diana Fernandes, que co-dirigiu os trabalhos de escavação arqueológica, e aos voluntários, Rafael Ortiz, Maria Dolores, Eduardo Matas, Bruno Reginaldo, Luís Laceiras, Denise Lima, Juan Batanero, Silvia Nuez, Ricardo Arrimar, Victor Almiron, Raquel Margalef e David Magalhães; aos trabalhadores da União de Freguesias de Santiago Maior e São João Baptista e ao seu presidente, Miguel Ramalho, à União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja pelo apoio às exposições realizadas nas duas localidades, aos grupos de ocupação de tempos livres do Penedo Gordo (UF Santiago Maior e São João Baptista) e Zona Azul; aos responsáveis pela cedência de instalações para a realização de diversas actividades, nomeadamente à Sara Serrano do Centro Social Lidador e ao André Tomé do Centro UNESCO, à Força Aérea Portuguesa pela cedência de alojamento; ao Centro Social, Recreativo e Cultural do Bairro da Esperança; à Andrea Mendoza pelo seu interesse que a trouxe desde a Colômbia para realizar um documentário (em breve agradeceremos a todos os envolvidos neste documentário); aos nossos colegas da Palimpsesto por todo o apoio material e não só; e por fim aos colegas da Câmara Municipal de Beja, Teresa Guerreiro e Tânia Matias por todo o seu empenho e naturalmente ao executivo do município por ter acreditado e apoiado este projecto de forma incondicional.
E mesmo para terminar, o nosso enorme agradecimento a todos colaboradores e amigos deste projecto desde o seu início e que são demasiados para os enumerarmos a todos, mas sem os quais nada disto teria sido possível!



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